Pesquisar este blog

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O ATOR

Para trás, cenários opacos, ainda que textos esquecidos e atuações apagadas, personagens... Adiante, falas indecisas, imprecisas, cenas esboçadas que não se sabe se terão oportunidade no espetáculo, ainda personagens... Só no presente a vida semipronta com pouca ou nenhuma sabedoria útil, despreparada, a libertar-se de figurinos. Sem roteiro ou gestos certos. Todas as atuações postas fora, algumas arranhando em resistência a desapegar-se do corpo que tanto usaram, outras atirando o corpo no canto, magoadas, outras já esquecidas... Prazer e dor num mesmo enxoval...  No agora duro, perplexo frame desperdiçado pela plateia, nu, em frente ao espelho iluminado do camarim, solitário, ator sem fala, semblantes despedidos, herda dos finais feitos, cortinas cerradas, de todas as vidas e mortes encenadas, o rosto insosso e mudo... Desfalcado do tempo, paralisado, suspenso no instante, nem um piscar de olhos, resigna-se à maquiagem para improvisar, sem cartaz, com a morte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário